Equipe Becos e Vielas em Palafita, no Museu da Maré.
Além do mapeamento de iniciativas artísticas e culturais localizadas em comunidades de baixa renda do Rio, a equipe Becos e Vielas tem realizado rodas de leitura e de debates semanais. O maior objetivo desta ação é a definição de critérios que permitirão ser utilizados para selecionar e organizar os grupos e artistas que serão apresentados no evento final do projeto. No último encontro, realizado na Vila do João, na Maré, cada integrante apresentou seus principais referenciais artísticos ao grupo a fim de investigar o que nos faz interessar por determinada manifestação artística e porque preferimos determinadas obras no lugar de outras. O jovem Leonardo Brasil, de Urucânia, rapidamente, retirou um exemplar de 1984, de George Orwell, da bolsa e disse que, para ele, a arte tem que ser política, tem que problematizar o atual estado das coisas – bem coerente com seu estilo de ser, já que Brasil compõe raps como quem fala sobre o tempo e dá aulas de teatro em um projeto social em Santa Cruz. Na mesma vertente dele, Daniele Braga citou a MPB (compositores como Chico Buarque e Gonzaguinha) como exemplo de uma arte que fala de amor e, ao mesmo tempo, de política, destacando a música como uma linguagem capaz de sensibilizar mais do que as outras. Romildo Jagunço, da Cidade Alta, citou os filmes de Chaplin e, mencionando sua longa experiência como capoeirista e educador social, disse acreditar que a arte serve para resgatar vidas, ou seja, ligar os seres humanos a um sentido de existência – abrindo espaço para pensar a arte em uma dimensão religiosa. Ademir Lamego trouxe o exemplo de Dom Quixote, seu livro de cabeceira, como um exemplo de obra de arte elevada – imediatamente, traçamos um paralelo entre o personagem de Cervantes e os artistas das favelas, que transformam seus sonhos e delírios em ações. Lamego citou ainda a obra O velho e o mar, de Hemingway, como um exemplo de obra de arte com capacidade de sintetizar em pouco espaço uma profunda visão de mundo. Para Aline, da Maré, interessam as obras de arte latinas (como Frida Kahlo e Almodóvar), pois estas fazem frente a um contexto cultural muito influenciado pelos Estados Unidos. Edenise Silva contou seu recente primeiro contato com um espetáculo de teatro, uma peça cujo nome era escrito de forma pouco usual (Bollywood), o que despertou nela a vontade de fazer esta arte para o resto de sua vida. Tiago Martha disse interessar-se pela arte feita por ele próprio e demais artistas de comunidades, acreditando que a arte é um processo sempre em construção e que não depende necessariamente de outras referências. Vicente, condutor do debate, mencionou a capacidade que a arte tem para inovar, trazendo idéias de uma forma como não tinham sido antes concebidas. A idéia, a partir de agora, é discernir estas questões na produção cultural a ser visitada.
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