terça-feira, 29 de março de 2011

Cerâmica Negra da Maré

Sediada no Núcleo da Ação Comunitária do Brasil na Vila do João, reúne mulheres empreendedoras que se dedicam ao estudo e aplicação de técnicas primitivas de cerâmica artística e decorativa. Realizado em processo ecologicamente adequado, o trabalho das ceramistas já foi premiado com o Top 100 de artesanato do SEBRAE.

(Texto produzido por Edenize Silva.)

Ana Maria de Souza

Ana Maria de Souza, mineira de Carangola, veio para o Rio de Janeiro trabalhar como doméstica. Há seis anos, após freqüentar cursos de pinturas no Largo do Machado e na Tijuca, sempre com a mesma professora Lina de Mello, entregou-se de corpo e alma ao universo das artes. Poeta, atriz e artista plástica, em 2002, veio morar na Vila do João, quando intensificou sua produção. Atualmente, freqüenta um curso de interpretação no Catete, ministrado pelo diretor Paulo Mag, que a convidou para uma participação especial em sua última peça. Faz parte do grupo "Embaixadores da Alegria", fazendo um trabalho com pessoas especiais no Instituto Benjamim Constant, na Urca. Seu trabalho está exposto no muro de acrílico que a Linha Amarela S.A. construiu para esconder as favelas da Maré dos olhos dos trafegantes.Quando falta dinheiro para comprar pincéis, Ana Maria pinta com as mãos. Além disto, gosta de cantar músicas românticas, como Roberto Carlos e Pixinguinha e de escrever poesias.

Antes Que Seja Tarde

Tenho sede do mundo!
Tenho pressa
Não a presso do homem santo...
Tenho pressa.

Não esta pressa
Sem volta, sem canto
Que termina por encanto
Que a vida revela e confessa

Tenho sede do mundo
Do calor das pessoas
Do sentimento do mundo
Até no mais humilde recanto

Nos arrebaldes onde o amor
Sem vaidade encontra-se oculto
Numa lágrima
Ou num pranto isolado
Da face desconhecida úmida de saudade.

(Texto produzido por Edenize Silva.)

A Cufa da Favela do Sapo



A CUFA – Central Única das Favelas – é uma organização sólida, reconhecida nacionalmente pelas esferas políticas, sociais, esportivas e culturais. Foi criada a partir da união entre jovens de várias favelas do Rio de Janeiro – principalmente negros – que buscavam espaços para expressarem suas atitudes, questionamentos ou simplesmente sua vontade de viver. Na Favela do Sapo, em Senador Camará, são realizadas atividades de teatro. Atualmente, um trabalho com performances poéticas a partir de textos de Carlos Drummond de Andrade. As performances ocorrem às segundas das 18h às 20h. As performances apresentadas são reunidas em um espetáculo semestral.
http://cufafaveladosapo.blogspot.com/

(Texto Produzido por Thiago Martha.)

Bruno Zagri de Manguinhos

 Publicamos abaixo o depoimento interessantíssimo, cheio de histórias do artista plástico Bruno Zagri:

"Faço parte de um coletivo de graffiti chamado Conflitus, onde eu e mais um dos membros somos moradores de favelas da zona norte do Rio de Janeiro. Somando aos outros, incluindo minha noiva, somos em cinco. Nos utilizamos do graffiti como arte de rua e que atualmente compreende-se como uma expressão popular, para passar mensagens para a população carente e desprovida de informação. Nosso trabalho encontra os muros tanto das favelas quanto da chamada pista para transmitir essas mensagens. É claro que não só de crítica vive um ser humano rs, as vezes, muitas na verdade, fazemos graffitis mais artísticos com mensagens mais positivas, sem todo aquele conteúdo político etc...Eu particularmente já desenvolvi trabalhos há anos atrás, como arte-educador comunitário/voluntário, onde todo o material vinha do meu próprio bolso, para dar aulas de desenho e pintura aqui onde moro e também na Maré, além de uma ocupação na zona portuária do Rio que durou mais que um dia. Eram dois dias na semana com as crianças de lá. Até o final do ano passado, dei aula de graffiti em uma escola pública aqui perto e agora estou dando aula de graffiti no Centro Cultural Dyla na Praça Seca! Uma amiga e eu desenvolvemos um projeto para o edital Territórios de Paz do Minc, mas ainda não recebemos o resultado final, o projeto consiste em trabalhar o tema cidadania e arte com as crianças e jovens daqui de Manguinhos. Já expus trabalhos meus de pinturas em técnica mista, sobre Manguinhos inclusive na Fiocruz. Quando morei no Parque União, na Maré, montei uma Galeria na casa que morava de aluguel, os espaços da cozinha,banheiro e sala eram a galeria, essa iniciativa era a de desconstruir esses espaços imponentes e excludentes que são as galerias, onde em sua maioria as classes menos favorecidas não frequentam. Enfim, já fiz algumas exposições coletivas e individuais dos meus trabalhos, bom resumidamente é isso rs!"

(Depoimento recolhido por Edenize Silva.)

Abaixo algumas imagens do seu trabalho SENSACIONAL:







Luana Galdino de Souza, poeta da Rocinha

Bem , tenho 17 anos e, desde muito nova, aprecio a escrita e tudo que está relacionado a ela .Comecei a escrever cedo .Sempre tive necessidade de expor de alguma maneira o que estava pensando . Nunca tive em mente escrever poesia , apenas foi, digamos, "fluindo" . Escrever, para mim, é natural .Quase chega a fazer parte de mim

Lua na varanda,
Estrela brilhante olhando pra mim .
Pensamento longe.
Perdido.
Onde meus pés não podem ir .
Quero você aqui ,
Sem pensar.
Nem que fosse só olhar.
Teu tão belo eu .
Arredio.Momentaneamente frio.
As vezes quase por um fio.
Esse modo de me tratar .
E,
No meio disso tudo ,
Me encaixo,
Acho.
Por entre todas as brechas,
Espaços .
Pedaços vagos .
Que me permites perceber.
Me lembra gente.Murmúrio .
Samba .
Lapa.Boêmia.
Jeito carioca malandro de ser.
Amor ao Rio.
Amor por você .
(Entrevista realizada por Ademir Lamego.)

Oficina Vagão

A Oficina Vagão nasceu graças ao trabalho do Conjunto Teatral Última Estação na comunidade do Guandu, em Santa Cruz. O Conjunto tem uma estética teatral de pegar papel e caneta e ir atrás de histórias de moradores a fim de transformá-las em dramaturgia nos palcos. O interesse de aproximação de novas pessoas para trabalhar foi tão grande que nasceu a Oficina Vagão, que não perdendo a estética de contar histórias traz para o público, espetáculos com linguagem fácil e uma visão periférica de obras e autores conhecidos como Medéia e Jorge Amado. A Oficina já apresentou espetáculos sobre os Doze Trabalhos de Hércules com “Uma Dúzia de Trabalhos”, a Trajetória do rádio Brasileiro em “Nós, os Cantores do Rádio”, trouxe ao público uma linguagem facilitada e resumida do Clássico Grego Medéia em Vinte e três minutos com “Medeias XXIII” e agora foi implantado na Oficina um novo projeto chamado “Pequenos Atores, Grandes Autores” onde o grupo está estudando Autores Brasileiros pouco conhecidos nas comunidades e montando espetáculos em cima das obras dos autores estudados. No primeiro módulo o estudo em cima de Jorge Amado traz o espetáculo “Tieta do Agreste – A Pastora de Cabras”.
A Oficina acontece todas as Terças-feiras das 18:30 às 21:30 na casa de cultura Ser Cidadão ou no Espaço Cultural Zona Oeste, cede oficial do Conjunto Teatral Última Estação.
Quem coordena a Oficina Vagão é o diretor e Dramaturgo Sandro D’França, o mesmo diretor do Conjunto Teatral Última Estação. O trabalho da direção é tentar desenvolver um trabalho multiplicador e não reprodutor. O interessante é trazer coisas novas na comunidade e que ela se multiplique entre os moradores fazendo assim um mix de culturas entre diferentes linguagens e não uma coisa reproduzida do que já tem nas comunidades.
(Texto produzido por Ademir Lamego.)

Centro Cultural A Historia Que eu Conto

O Centro Cultural A História Que Eu Conto (CCHC) é uma organização não
governamental sem finalidades lucrativas, criada a partir do “Encontro de Sonhos”
de três moradores da Comunidade de Vila Aliança: Samuel Muniz (Samuca),
George Cleber (Binho) e Jeferson Cora (Jê). Depois de participarem de
diversos projetos e iniciativas, na sua maioria vindos de fora da
Comunidade, os “três loucos”, como eram considerados,
decidiram idealizar uma Instituição que surgisse como referencia de
dentro da Comunidade, promovesse o acesso à Cultura, resgatasse o
sentimento de pertencimento e principalmente evidenciasse a valorização
histórica do Complexo de Vila Aliança e Senador Camará.
Neste complexo, nunca houve um investimento nos segmentos culturais por parte do Governo.
Com um forte exemplo de superação do Samuca, que, na década de 80 esteve entre os criminosos mais procurados do RJ,
ficou preso por sete anos, ainda na cadeia teve sua concepção mudada
prometendo a Deus que utilizaria sua história de vida como exemplo para
que outros adolescentes não se envolvessem com a criminalidade e se
tornaria referência para aqueles que se encontrasse no sistema penal.
Atualmente muitas outras histórias de superação se agregaram ao CCHC,
criando uma grande engrenagem movimentada pelo amor e a vontade de
desenvolver todo o Complexo. Se no início eram apenas três loucos, hoje são
30 voluntários que se esforçam na busca por uma
sociedade mais justa, uma melhor qualidade de vida da população e
projetar os aspectos positivos dessas Comunidades para o Mundo.
O CCHC está posicionado no
centro dessas duas Comunidades e disponibiliza atividades de: Graffiti,
Dança de Rua, Capoeira, Modelagem, Inglês, Reforço Escolar, Grupo de
terceira idade Vivendo e Dançando, Teatro, Exposição permanente “O Negro
na Cultura Popular Brasileira” do artista plástico Bartolomeu Jr.
(morador da comunidade e um dos fundadores do CCHC) . Além disto, conta com uma
biblioteca comunitária Quilombo dos Poetas, com mais de  5 mil
exemplares,  muito acessada pelas Comunidades.
Samuel Muniz de Araújo, mais
conhecido como Samuca, foi um dos assaltantes e sequestradores do Rio de
Janeiro mais visados na década de 90. Foi preso, condenado, cumpriu
pena e deu uma nova direção à sua vida. Na cadeia, em vez de se entregar
ao destino, descobriu o valor da solidariedade. Hoje, ele é uma das
lideranças do Centro Cultural A História que Eu Conto, que faz um
trabalho de resgate social de crianças, adolescentes e jovens por meio
das atividades realizadas na Vila Aliança.

http://ahistoriaqueeuconto.wordpress.com/
(Texto produzido por Daniele Braga.)

João Paulo Toscano


Sua história com arte começou com a inocência de uma criança, e quando viu já estava envolvido. Tudo começou na escola, nos ginasios. No colégio onde cursou o ensino médio, também participava ativamente, apesar dos outros alunos, de mesma classe e/ou idade não se interessarem muito. João freqüentava cursos em lonas culturais e outros como o da “Casa da Rua do Amor". Além de atuar nas oficinas de arte e cultura, o morador de Santa Cruz também escreve, é autor do esquete “Um passo de Contos”, e faz parte da Cia Te Ama, fundada em 2009, por alunos do curso de teatro da Casa da Rua do Amor, coordenada por Luiz Vaz , com ensaios acontecem às segundas, quartas e sextas.Completando essa rotina de artista, João faz aulas de interpretação de vídeo para televisão. "Até por que quero ser diretor e fazer parte de tudo um pouco.  Já participei de outros festivais, mas estar neste evento (Mostra de Artes das Favelas) será uma satisfação, já me sinto representante de Sepetiba e da localidade de Santa Cruz. Meu interesse por escrever não é de hoje, vem desde pequeno."
(texto produzido pro Daniele Braga.)

Brincando na Roda

Realizada na Casa da Rua do Amor, as aulas acontecem todas as segundas e quartas, conduzidas por India, que há dez anos vem trabalhando a integração e o resgate de elementos da cultura afro-brasileira como: Capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança, que foi um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos brasileiros; Maculelê, que era uma arte marcial armada, mas atualmente é uma forma de dança que simula uma luta tribal usando como arma os bastões; e o Jongo, composto por música e dança características, animadas por poetas que se desafiam por meio da improvisação, ali, no momento, com cantigas ou pontos enigmáticos, e que influiu poderosamente na formação do Samba carioca, em especial. (Texto produzido por Daniele Braga e Leonardo Brasil.)

Natanael Leal

Natanael Leal tem a dança em sua vida desde os cinco anos de idade. Incentivado por sua irmã, que era dançarina de balé, herdou o desejo pela arte . Hoje, aos quinze anos de idade, Natanael, que há seis anos faz teatro, participa do grupo de dança Yunankie e do balé no CAD (Centro de Arte e Dança) em Campo Grande. O morador da comunidade do Barro Vermelho ensaia todos os dias pois atua em outras artes como dança contemporânea, jazz e na criação de suas coreografias para apresentações solo.
(Texto por Daniele Braga e Leonardo Brasil.)

A Casa da Rua do Amor




Em 19 de março, Becos e Vielas seguimos para a comunidade de Urucânia, no Bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste, onde fomos recebidos com muita alegria e arte. Visitamos um centro cultural conhecido como Casa da Rua do Amor, localizada numa rua com esse nome realmente. O que vimos foi um espaço muito bem organizado, cheio de vida e de diferentes gerações, gente alegre e interessante reunida para a prática e contemplação de diferentes manifestações artísticas. Nosso grupo foi ciceroneado pelo coordenador do espaço, Luiz Vaz, que nos contou um pouquinho sobre a história do trabalho. Cooperativa de arte que foi fundada por um grupo de amigos em 2004, sediava suas atividades na Associação de Moradores. O grupo recebe atualmente incentivo da Vale-Sul pela Lei Rouanet. Após tres anos de formação, a empresa concedeu à cooperativa uma doação: o terreno de 400 m2 na Rua do Amor, em Santa Cruz. Hoje o centro cultural  reúne várias oficinas, entre elas as de capoeira, flauta doce, danças regionais, artesanato, cordas e concordas, danças africanas, teatro, teatro de bonecos, biblioteca entre outras. As atividades começam sempre no início do ano com aproximadamente 200 crianças e jovens, entre 8 e 18 anos. Nosso grupo foi recebido neste sábado com danças regionais do Pará, expressão corporal, capoeira, jongo, maculelê e esquete de clowns.(Colaboraram com este texto Daniele Braga, Leonardo Brasil e Luiz Vaz.)

Via Sacra da Rocinha

Neste 12 de março, Becos e Vielas fomos ainda até à Rocinha para assistir a um momento da preparação do espetáculo Via Sacra. Desde 1992, o grupo de teatro "Roça Caçacultura",reúne cerca de 50 pessoas da comunidade (na maioria jovens) para encenar a Via Sacra da Rocinha, espetáculo itinerante que acontece sempre na Sexta-feira da Paixão, onde os atores percorrem os becos e ruas da favela apresentando a Paixão de Cristo. O espetáculo é dirigido por Aurélio Mesquita, ator e morador da comunidade, que faz todos os anos uma releitura da peça "O Homem de Nazaré", de José Maria Rodrigues. Apesar do tema religioso, o grupo consegue inserir na vida dos personagens o drama de seu cotidiano na Rocinha e a cultura singular da comunidade, numa tentativa de humanizar os personagens (fazer com que o público se identifique com  a peça) e fazer uma reflexão atual das mensagens de Cristo. Neste dia, Aurélio comandava a seleção do elenco para a montagem de 2011. Dezenas de atores encenaram pequenos trechos do texto para uma platéia volumosa, que classificava os seus preferidos a partir do aplauso. Nossa equipe foi convidada a integrar este processo e colaborou com a decisão do diretor. Soubemos que existe um documentário sobre a Via Sacra da Rocinha, produzido em 2002, pela Giros Produções. Atualmente, o espetáculo conta com o apoio da Secretaria Estadual de Cultura.
 Fotografias neste post do super fotógrafo Thiago Ripper, feitas durante a Via Sacra de 2010.

domingo, 20 de março de 2011

Os Guerreiros do Lins


Em 12 de março, Becos e Vielas Produções adentrou a comunidade Nossa Senhora da Guia, no Complexo do Lins, Grande Méier, para conhecer o trabalho do Grupo Guerreiro da Guia. O Grupo foi formado em 1992, para dar uma outra opção aos jovens da comunidade, que eram facilmente aliciados pelo tráfico de drogas. O trabalho é anterior ao Afroreggae, unindo os mesmos ritmos que os do grupo de Vigário Geral (o samba e o reggae), são parceiros deles, mas não alcançaram a mesma projeção. Numa praça da comunidade, encontramos Adailton, líder do grupo, coordenando o ritmo de cerca de trinta jovens percussionistas e circundado por diversos membros da comunidade. A maioria, mães dos jovens músicos. Nosso grupo foi recebido com toda a fé. Adailton passou o comando dos instrumentistas para um parceiro seu e sentou-se com a equipe para conversar sobre o seu trabalho. Contou o início de tudo e a sua perseverança e resistência, já que o grupo não conta com apoio da iniciativa privada ou do governo e localiza-se numa área absolutamente carente de visibilidade e de investimento social, que é o Grande Méier. Um rapaz passa de bicicleta, fazendo alguma entrega, e Adailton imediatamente o convida para aproximar-se. Trata-se de um antigo integrante do grupo, que deixou os ensaios para trabalhar e sustentar a família (realidade esta que encontramos em todos os grupos visitados). O rapaz cantou para a gente uma composição de Adailton, imensamente poética e bem ritmada, canção de protesto, fazendo referência a um passado negro de escravidão que não se separa de um presente de marginalização e preconceito. Adailton lembra que o nome da serra sobre a nossa cabeça é Serra dos Pretos Forros, local em que se abrigavam negros alforriados no passado e atualmente ocupada por cidadãos com pouco ou nenhum capital real e simbólico. Adailton contou também sobre a sua amizade com Mr. Catra, que nasceu no estúdio do DJ Marlboro, logo ali do lado. Catra gravou músicas dos Guerreiros, residiu na comunidade e atualmente é um padrinho do trabalho, convidando jovens para participar de shows com ele, contribuindo com a compra de instrumentos. O coordenador geral do trabalho chama-se Walmir Aragão e o grupo realiza duas festas anualmente, na comunidade, em 13 de maio (Abolição da Escravatura) e 20 de novembro (Consciência Negra). Um outro aspecto que é bonito de se destacar é como os jovens multiplicam sua experiência, ensinando as crianças, que se amontoam ao redor dos percussionistas, a tocar um instrumento.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Em busca de critérios

Equipe Becos e Vielas em Palafita, no Museu da Maré.
Além do mapeamento de iniciativas artísticas e culturais localizadas em comunidades de baixa renda do Rio, a equipe Becos e Vielas tem realizado rodas de leitura e de debates semanais. O maior objetivo desta ação é a definição de critérios que permitirão ser utilizados para selecionar e organizar os grupos e artistas que serão apresentados no evento final do projeto. No último encontro, realizado na Vila do João, na Maré, cada integrante apresentou seus principais referenciais artísticos ao grupo a fim de investigar o que nos faz interessar por determinada manifestação artística e porque preferimos determinadas obras no lugar de outras. O jovem Leonardo Brasil, de Urucânia, rapidamente, retirou um exemplar de 1984, de George Orwell, da bolsa e disse que, para ele, a arte tem que ser política, tem que problematizar o atual estado das coisas – bem coerente com seu estilo de ser, já que Brasil compõe raps como quem fala sobre o tempo e dá aulas de teatro em um projeto social em Santa Cruz. Na mesma vertente dele, Daniele Braga citou a MPB (compositores como Chico Buarque e Gonzaguinha) como exemplo de uma arte que fala de amor e, ao mesmo tempo, de política, destacando a música como uma linguagem capaz de sensibilizar mais do que as outras. Romildo Jagunço, da Cidade Alta, citou os filmes de Chaplin e, mencionando sua longa experiência como capoeirista e educador social, disse acreditar que a arte serve para resgatar vidas, ou seja, ligar os seres humanos a um sentido de existência – abrindo espaço para pensar a arte em uma dimensão religiosa. Ademir Lamego trouxe o exemplo de Dom Quixote, seu livro de cabeceira, como um exemplo de obra de arte elevada – imediatamente, traçamos um paralelo entre o personagem de Cervantes e os artistas das favelas, que transformam seus sonhos e delírios em ações. Lamego citou ainda a obra O velho e o mar, de Hemingway, como um exemplo de obra de arte com capacidade de sintetizar em pouco espaço uma profunda visão de mundo. Para Aline, da Maré, interessam as obras de arte latinas (como Frida Kahlo e Almodóvar), pois estas fazem frente a um contexto cultural muito influenciado pelos Estados Unidos. Edenise Silva contou seu recente primeiro contato com um espetáculo de teatro, uma peça cujo nome era escrito de forma pouco usual (Bollywood), o que despertou nela a vontade de fazer esta arte para o resto de sua vida. Tiago Martha disse interessar-se pela arte feita por ele próprio e demais artistas de comunidades, acreditando que a arte é um processo sempre em construção e que não depende necessariamente de outras referências. Vicente, condutor do debate, mencionou a capacidade que a arte tem para inovar, trazendo idéias de uma forma como não tinham sido antes concebidas. A idéia, a partir de agora, é discernir estas questões na produção cultural a ser visitada.

terça-feira, 1 de março de 2011

Segmentos no Museu da Maré

No dia 26 de fevereiro, a equipe de produção Becos e Vielas visitou também a Segmentos Cia. de Dança, que realiza seus ensaios em uma sala do Museu da Maré. O grupo participou de um debate com os bailarinos, com o diretor artístico e com o diretor coreográfico. Segue informações sobre o trabalho, coletados pela integrante Edenize Silva, da Maré:

A Segmentos Cia. de Dança é um projeto artístico e profissionalizante criado em 2008, com base na dança contemporânea e com fins sociais. Nasceu da vontade de instituir no Brasil um centro de troca de experiências, inovação e acesso cultural a população. Residente no bairro da Maré – Rio de Janeiro desde 2008. Pretendemos realizar workshops, aulas e apresentações em diferentes ambientes sociais, a fim de mostrar aos jovens de comunidades com baixa renda que é possível mudar a realidade em que vivem através da cultura.

Objetivos: Nosso maior objetivo é democratizar o acesso ao ensino da dança e das artes conexas, através da integração de pessoas que desenvolvam novas formas de intervenção na realidade social, acreditando no potencial de cada jovem.

Meta: Contribuir para desenvolver a construção de novas relações com o corpo, permitindo que crianças e jovens estabeleçam novos vínculos sociais e novas estratégias de futuro, tanto no plano individual quanto coletivo.

Atividades: Nosso foco principal com relação às atividades é culturais, sociais, cidadania e cultural, sendo transmitidas através de aulas, oficinas, amostras e workshop, entre espetáculos. Todas as atividades realizadas são administradas pelos dois diretores do projeto e assim sucessivamente o setor de coordenação coloca em prática toda a organização. Para o qual, ser ministradas de forma qualificada pelos professores da equipe. Sábados – 14:00h às 20:00h e Domingos – 10:00h às 15:00h (Acompanhe a programação através do nosso web-site). Aulas e Oficinas: Ballet Clássico Dança contemporânea, Técnicas de Street Dance, Arte Circense, Alongamento e Composição Coreográfica. Amostras e Workshop: Suas realizações ocorrem através do corpo de dança da companhia em lugares populares e forma acessível à entrada da população.
Espetáculos: Produção Própria através da apresentação dos espetáculos em repertórios.

Equipe Artística

Direção Artística e Concepção: Thiago Sá

Direção Coreográfica e Ensaios: Marcio Cardoso

Assistente de Direção e Coordenação: Noeli Pinheiro

Bailarinos e Interpretes: Amanda Muniz, Carlos Assis, David Valença, Luana
Domingos e Paulo Vasconcellos

Maítre-de-Ballet: Camille Oliveira

Técnica Contemporânea: Thiago Sá

Estilos Modernos de Street Dance: Claudio Cardoso

Arte Circenses: Alexandre Monteiro

Assessoria de Imprensa e Produção: Joana D'arc

Cenógrafo: Bruno Serpa

Edição Visual: Paula Ribeiro

Fotografo:Robson Santos

CONTATO:

Grupo Artístico & Cultural Segmentos

www.gruposegmentos.org / companhia@gruposegmentos.org

+55 21 3109-4292 / 9477-4484

Os Populares do Museu da Maré


 Em 26 de fevereiro, a equipe Becos e Vielas foi ao Museu da Maré encontrar-se com a Companhia Teatral Os Populares e assistir a um trecho de seu espetáculo "Das Neves - Uma Princesa Quase Perfeita". Segue trecho da entrevista realizada pela integrante Edenize Silva, moradora do Complexo da Maré:


 "A Companhia Teatral Os Populares é um grupo formado por 7 atores, jovens entre 18 e 25 anos, moradores do Conjunto de Favelas da Maré. A Cia foi criada a partir do contato com uma oficina de teatro oferecida pelo NAM – Núcleo de Artista da Maré nos anos de 2006, 2007 e 2008. Logo após o fim da oficina o grupo se reencontrou em 2009 e juntos decidiram criar uma companhia teatral que possa levar aos palcos peças populares e que facilitem a acessibilidade do público de baixa renda a eventos culturais. A companhia segue uma metodologia livre e não se prende a um estilo, seja ele drama ou comédia. A Cia utiliza técnicas de improvisação e criação coletiva, ou seja, todo trabalho artístico é elaborado por todos os membros do grupo, assim como o cenário, figurino, maquiagem repertório e direção. Acreditamos na construção coletiva e na inserção de qualquer individuo na atuação artística, descobrindo assim um novo mundo e quebrando barreiras do preconceito social e ser reconhecendo como um potencial transformador da sua realidade.Dessa forma, não temos um público especifico, atingimos desde a criança até o adulto, levando peças infantis e adultas para teatros, escolas, praças, centro culturais, museus, centros de ensino, etc. o que move o grupo é a democratização da cultura á todos os grupos sociais, atingindo um público diversificado e levando uma interpretação leve e bem humorada.Em 2010, realizamos duas apresentações no Museu da Maré/Complexo da Maré, onde um público estimado em mais de 250 pessoas no total assistiram a peça “Baú de Comédias” com sete esquetes diferentes, causando muitas gargalhadas e principalmente garantindo o acesso aos moradores da região de forma gratuita. No mesmo ano, o grupo participou da semana de atividades culturais da Escola Municipal Paulo Freire/Complexo da Maré, onde apresentou a pequena peça “Das Neves - Uma princesa quase perfeita”, com a participação de mais de 150 crianças, adolescentes e professores. Isso tudo mostrou o quão importante é equipamentos culturais como o teatro em localidades de baixa renda, incentivando e estimulando a assistir a outros espetáculos e a freqüentar centros culturais dentro e fora da região.Desde o ano de 2009 o grupo vem se encontrando no Ponto de Cultura Museu da Maré, no Complexo de favelas da Maré. É nesse espaço que a companhia ensaia e cria as peças teatrais. Os encontros acontecem aos sábados de 16h às 19h. Em média, o grupo leva em torno de 6 a 1 ano para pôr uma peça em cartaz. Algumas de nossos espetáculos: Baú de de Comédias, Das neves - uma princesa quase perfeita, A Posse do Prefeito, entre outros pequenos trabalhos."

Contatos: (21) 7511-0928 e 3104-5490(falar com JB Henrique) - orkut/e-mail:ctospopularesrj@gmail.com

Becos e Vielas na Vila Cruzeiro

No dia 19 de fevereiro, a equipe de produção Becos e Vielas visitou o Teatro da Laje, na Vila Cruzeiro, Complexo da Penha, onde assistiu a uma apresentação especial do espetáculo "A Viagem da Vila Cruzeiro à Canaã de Ipanema, Numa Página de Orkut". Segue o texto produzido pela coordenadora de produção, Daniele Braga:

"Grupo teatral criado pela iniciativa de um professor, que, percebendo a aptidão de alguns alunos, sentiu a necessidade de manter e aprimorar o trabalho, lapidando os talentos. Composto atualmente por sete jovens atores moradores da comunidade da Vila Cruzeiro, com idades entre 15 e 23 anos, levando na marca um dos grandes diferencias, Camila é a unica menina do grupo. Com 8 anos de formação, o grupo se prepara em um espaço cedido por um amigo do diretor, e traz o nome do lugar que familiares e amigos dos atores emprestavam para os antigos ensaios: a laje. Sem ajuda do governo, tráfico, ou ong's, o Teatro da Laje faz criticas a todos os tipos de preconceito, politica, abuso de poder e, entre outras coisas,  aos "projetos sociais": Os finaciamentos que vêm para as favelas rotulados e escritos de formas autoritarias, sem que realmente se saiba a realidade e necessidade do lugar, diz Verissimo. Atualmente, levantando esse tipo de critica o grupo traz para os espectadores uma consciência social, mas, futuramente, com o sucesso (que é muito desejado e esperado) qual seria o melhor método para não perderem a identidade e a essencia do grupo? Continuar com as criticas ou se aliar aos iniciativas que criticam para espandir o trabalho? Não tem como se isolar totalmente, nem como se vender totalmente. O não isolamento passa por muitas questões, a principal é a linguagem, diz Deivson Garcia, um dos atores. Qual a visão do grupo em relação ao conflito entre policias e bandidos da região?  A relação sempre foi de conflito, os policiais sempre buscaram motivos para denegrir a imagem e entrar nas favelas. Na década de 40, era pela religiosidade da maioria dos moradores, entravam e destruiam os terreiros de candomblé. Hoje em dia, são devidos aos bandidos e depois vão arumar outros motivos, diz Veríssimo."
Para quem quiser conhecer melhor o trabalho do grupo:
http://www.grupoteatrodalaje.com.br/principal.htm

Mestre Jagunço

Dia 12 de fevereiro, a equipe Becos e Vielas ganhou um integrante super especial, Romildo dos Santos, Mestre Jagunço, capoeirista desde 1989.

http://www.facebook.com/update_security_info.php?wizard=1#!/profile.php?id=1447129559

Nascido no interior de São Paulo, circulou pelo Brasil inteiro, desenvolvendo os mais diversos tipos de atividades, até chegar ao Rio e estabelecer-se em Cidade Alta, na zona norte da cidade. Filho de lavradores e com uma grande experiência como pedreiro e mestre de obras, Jagunço sempre desejou ter uma vida diferente da de seu pai e por isso sempre agarrou-se em livros, conhecimento e arte. É um dos fundadores do grupo de cultura afro-brasileira Kina Mutembua, que surgiu na ONG Ação Comunitária do Brasil, em 2002. O grupo surgiu para elevar a auto-estima de meninos afrodescendentes da Cidade Alta e da Vila do João, no Complexo da Maré e serviu para quebrar o estigma de circulação de jovens entre as duas comunidades, já que são comandadas por facções do tráfico distintas. Romildo foi um dos pioneiros a atravessar a fronteira imaginária, que divide essas comunidades. O grupo atingiu um nível técnico altíssimo e se destacou no cenário nacional e internacional, mas, por avaliação de Romildo, as vaidades cresceram demais e logo surgiram conflitos que frearam o desenvolvimento do grupo. "Menino de favela ficou deslumbrado ao se ver aplaudido pelos gringos do Copacabana Palace". Romildo é atualmente Mestre de Capoeira da Ação Comunitária do Brasil e um dos mais belos trabalhos que desenvolve é multiplicar sua experiência a menores em situação de conflito com a lei, em unidades do DEGASE.

Quem quiser assistir ao belíssimo trabalho do Kina Mutembua, segue o link para o Youtube.

http://www.youtube.com/watch?v=H6MRd9bOZmI

Parabéns pelo seu trabalho, Mestre Jagunço e obrigado por juntar-se a nós.

Uma Produção Becos e Vielas

No dia 05 de fevereiro, a equipe de produção da Mostra de Artes das Favelas reuniu-se na Ação Comunitária do Brasil da Vila do João (Ponto de Cultura Novas Ondas da Maré), para ações de planejamento e formação. O grupo elegeu Daniele Braga, de 22 anos, moradora da Vila Kennedy, em Bangu, para ser a coordenadora de produção do evento. Daniele cursou Projovem Trabalhador Arte e Cultura I e Curso Técnico de Produção Cultural. Demonstra um perfil de liderança, com bastante aptidão para organizar ações e estratégias. É assídua aos encontros do grupo e tem se mostrado peça fundamental neste trabalho. Uma das suas primeiras propostas foi a de criação de um nome para o grupo que tem se reunido para produzir a Mostra. A idéia partiu de Leonardo Brasil, 26 anos, morador de Urucânia, em Santa Cruz, compositor, ator e arte-educador: Becos e Vielas Produções. Tiago Marta, 30 anos, morador do Catete, que está a frente da identidade visual do trabalho, criou a logomarca.